A interferência de conceitos morais na representação de personagens de lésbicas nas telenovelas brasileiras", de Adriana Ibiti

 

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No dia 16 de março de 2015, começou, no Brasil, uma nova novela em horário nobre (21h), com uma audiência que alcançou os 35 pontos, de acordo com o IBOPE (empresa privada que mede audiência). A trama conta a história de uma favela chamada Morro da Babilônia, onde mora a protagonista Regina (Camila Pitanga), que será a vítima de duas vilãs: Inês (Adriana Esteves) e Beatriz (Glória Pires). […]

No dia 16 de março de 2015, começou, no Brasil, uma nova novela em horário nobre (21h), com uma audiência que alcançou os 35 pontos, de acordo com o IBOPE (empresa privada que mede audiência). A trama conta a história de uma favela chamada Morro da Babilônia, onde mora a protagonista Regina (Camila Pitanga), que será a vítima de duas vilãs: Inês (Adriana Esteves) e Beatriz (Glória Pires). No entanto, a grande polêmica em torno da novela foi o beijo de amor protagonizado pelo casal octogenário formado por duas das mais prestigiadas e premiadas atrizes brasileiras: Fernanda Montenegro(1),que interpreta a Teresa e Nathalia Timberg(2), na pele de Estela.

Esta foi a primeira vez que a televisão brasileira mostrou um beijo romântico entre pessoas do mesmo sexo na terceira idade. O tema foi motivo de comentários a favor e em contra nas principais redes sociais, como Facebook e Twitter. No Congresso, a bancada evangélica emitiu uma nota de repúdio e pediu o boicote da audiência à novela e aos produtos anunciados no horário de exibição da trama. Influentes líderes da igreja evangélica acusaram a obra de destruir os valores da família, pregar a imoralidade e influenciar adolescentes em relação ao que chamam modismo ao contrário das tradições e dos costumes. O texto da bancada evangélica cita “violações morais impostas pelos meios liberais”(3).

O deputado Marco Feliciano, do PSC (Partido Social Cristão), pediu o boicote especialmente contra a empresa de cosméticos Natura, principal anunciante de Babilônia(4). Além disso, o deputado Victório Galli, também do PSC, disse que novelas e filmes com personagens homossexuais são uma forma de fazer apologia ao que ele chama “comportamento gay”. Ou seja, “dois machos e duas fêmeas não se reproduzem. Então, a homossexualidade é sinônimo da extinção da raça humana”(5). Ele afirma ser contra as práticas homossexuais e não contra as pessoas e questiona que se está dando prioridade “a este grupo que é minoria e quer tirar nossos direitos”. Afirma que algumas novelas e filmes fazem apologia à prática homossexual que Deus abomina e não é algo natural. Para ele, as novelas ensinam as crianças a ser gays e estes temas deveriam estar reservados apenas para a televisão fechada e não ser abordados em canais abertos. Por outro lado, a visibilidade da representação do casal de lésbicas em Babilônia levou, em menos de uma semana, mais mulheres entre 50 e 70 anos, aos cartórios do Rio de Janeiro para formalizar suas uniões civis, como fazem as personagens da novela(6).

Em um pequeno resumo da historia da representação de personagens de lésbicas nas novelas brasileiras, podemos perceber de que forma grupos conservadores da sociedade têm atuado, nas últimas décadas, no sentido de interferir na maneira como estas personagens são mostradas e na aceitação das audiências.

 

Vale Tudo – TV Globo (1988): Cecília e Laís
O primeiro casal de lésbicas representado nas novelas brasileiras foi em Vale Tudo (1988), da TV Globo, uma novela que conseguiu atingir uma audiência de 47 pontos, segundo o IBOPE. Os personagens de Cecília Catanhede (Lala Deheinzelin) e Laís Amorin (Cristina Prochaska) fizeram parte de dois núcleos importantes da trama e apareceram em quase todos os capítulos. Nessa época, os/as autores/as da novela, Aguinaldo Silva, Gilberto Braga e Leonor Bassères, optaram por mostrar o amor entre as duas mulheres através do que os outros personagens falavam sobre elas e o que diziam uma à outra. Os/as autores/as não queriam chocar os/as telespectadores/as e sim oferecer uma história que pudesse ser vista por toda a família. Além disso, as duas mulheres eram muito femininas e não tinham gestos que sinalizassem que eram homossexuais (Braga, 2010)(7).

Por outro lado, o Brasil tinha saído há pouco tempo de um regime militar e a telenovela foi inovadora no sentido de falar de temas como o direito das pessoas homossexuais. Na trama, as duas mulheres haviam construído juntas uma pousada e deveriam fazer um testamento para garantir que nenhuma das duas ficasse sem nada, caso a outra morresse. De fato, Cecília morre e começa uma mobilização de alguns personagens para que o irmão dela, um rico empresário, Marco Aurélio (Reginaldo Faria), não ficasse com a herança, que seria metade da pousada e sim deixasse para Laís, o que acontece depois de muita pressão (Braga, 2010: 5).

Na época em que a telenovela foi exibida existia, em Brasília, a Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP), responsável por analisar o que podia ser exibido ou não, em que horário e para qual idade e que vetou alguns diálogos entre as duas. Prochaska comenta que havia uma autocensura nos bastidores a respeito da homossexualidade dos personagens, que as cenas não deveriam mostrar uma sensualidade muito evidente para evitar uma censura maior. Segundo ela, havia uma cena de um beijo entre as duas que nunca foi gravada. No entanto, a atriz conta que o feedback que teve da audiência evidenciava que os/as telespectadores/as estavam a favor da sua personagem, de que pudesse ficar com a herança da sua namorada. Ela afirma que a sua personagem era bem avaliada porque era “uma querida e não uma sapatão louca”. Vale Tudo foi a última novela censurada pelo DCDP, extinto pela Constituição de 1988(8).

Cecília e Laís

Torre de Babel – TV Globo (1998): Rafaela e Leila
Em 1998, TV Globo exibiu Torre de Babel, que tinha as personagens de Rafaela Katz (Cristiane Torloni) e Leila Sampaio (Sílvia Pfeiffer). Eram duas mulheres adultas e bem sucedidas que tinham uma relação harmoniosa e estável, mas, que protagonizaram um final trágico. Os setores mais conservadores da sociedade brasileira pressionaram a emissora e o autor, Sílvio de Abreu, matou as duas numa explosão em um shopping center que também acabou com a vida de outros personagens que incomodavam o público. Na época, especulou-se que as mortes aconteceram para aumentar os níveis de audiência que mantinham uma média de 35 pontos quando, em geral, uma novela em horário nobre da TV Globo tinha entre 45 e 50 pontos, segundo o IBOPE.

Para La Pastina(9), foi justamente a harmonia na relação entre as duas mulheres bonitas e bem sucedidas o que incomodou a audiência. No roteiro original, Rafaela morreria na explosão e Leila se apaixonaria por outra mulher, Marta, que seria protagonizada pela atriz Glória Menezes. No entanto, a explosão não só matou as duas, mas também, eliminou completamente o tema lesbianismo da narrativa (2002: 95). Em muitas cartas, ligações e grupos de discussão, os/as telespectadores/as não eram a favor de que Glória Menezes, que tinha protagonizado tantos papéis principais ao lado de Tarcísio Meira, seu marido na vida real, interpretasse o papel de uma lésbica (Freaza, 1998 em La Pastina, 2002). No entanto, a página oficial da TV Globo nega que os personagens de Leila e Marta tivessem sido pensados para ter uma relação amorosa. Seria uma amizade entre uma homossexual e uma heterossexual. Por outro lado, a TV Globo admite que houve pressões externas para que a história entre as duas mulheres não acontecesse(10). Em uma entrevista, Cristiane Torloni, que interpretava Rafaela, disse que se sentia frustrada com o destino da história e que estava triste por causa da homofobia dos/as telespectadores/as que obrigavam a eliminação do tema (Freaza, 1998 em La Pastina, 2002).

O argumento utilizado pela emissora para justificar a mudança repentina na trama foram os índices de audiência que caíram. Como os preços dos anúncios estão ligados aos índices de audiência, a caída da popularidade da novela levou a TV Globo a responder à pressão de vários grupos da sociedade que argumentaram que o problema com o casal de mulheres não era apenas o fato de serem lésbicas, mas sim porque formavam o casal mais feliz e mais ajustado da história (La Pastina, 2002: 95).

Dom Eugênio Salles, na época cardial arcebispo do Rio de Janeiro, na sua coluna de domingo do jornal O Globo, criticou a emissora e prometeu que todas as pessoas envolvidas teriam que “acertar suas contas dom Deus”. O religioso, uma figura importante na ala conservadora da igreja católica do Brasil, foi uma das vozes mais fortes contra a apresentação de personagens gays em Torre de Babel (La Pastina, 2002: 95). Também houve pressões comerciais contra. Sílvia Pfeifer disse que perdeu contratos publicitários porque as empresas decidiram que não queriam ter seus produtos associados com um personagem lésbico.

http://globotv.globo.com/rede-globo/memoria-globo/v/torre-de-babel-o-amor-de-rafaela-e-leila/2913679/ (Rafaela e Leila).

 

Mulheres Apaixonadas – TV Globo (2003): Clara e Rafaela
Em Mulheres Apaixonadas, de 2003, Clara (Alinne Moraes) e Rafaela (Paula Picarelli) são duas namoradas adolescentes que sofrem preconceito da mãe de Clara, Margareth (Laura Lustosa), e de uma colega da escola, Paulinha (Ana Roberta Gualda). A grande polêmica era se as duas beijariam no final da novela. Durante a trama, elas não tinham quase nenhum tipo de interação física (Gomide, 2006: 14)(11). O beijo, no último capítulo, foi quase no queixo e com Rafaela vestida de homem durante uma apresentação da peça Romeu e Julieta, de Shakespeare. A relação entre as duas foi sendo gradualmente desenvolvida durante a história. Um dos aspectos importantes foi o fato de que as personagens falavam da sua condição homossexual. Numa briga, a mãe da personagem de Clara refere-se à namorada da filha como “aquela outra” e Clara responde que “aquela outra tem nome. É Rafaela. E é minha namorada”.

Na escola, o personagem homofóbico de Paulinha utilizava expressões irônicas para referir-se a Clara e Rafaela. Numa cena, a diretora do colégio, Helena (Cristiani Torloni), chama as três na sua sala e diz que todos/as têm o direito de ser feliz e que Paulinha deveria preocupar-se mais com sua vida (Fernandes e Brandão, 2010: 110)(12). Segundo Peret (2005: 113)(13), a história de Clara e Rafaela representa 1% de toda a trama contada na novela, mas, esse fato não interferiu no desenvolvimento da narrativa que teve começo, meio e fim. Clara não suportava a pressão da mãe que dizia que seu comportamento era estranho e culpava a Rafaela pela “contaminação”. Clara dependia financeiramente da família enquanto Rafaela morava sozinha. Para que Clara pudesse morar com Rafaela, teve que esperar completar os 18 anos, como foi mostrado na telenovela.

Margareth tentou de tudo para que a filha não saísse de casa, mas, nada funcionou. Para Fernandes e Brandão (2010: 122), as cenas entre as duas garotas mostravam a afetividade homossexual com menos preconceitos, o que fez com que ganhassem algo de legitimidade antes reservada apenas para às relações heterossexuais. A cena do beijo entre as duas adolescentes provocou diferentes reações entre os grupos LGBTQI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Queers e Intersexuais)(14) e a comunidade em geral e tinha sido anunciado com antecedência, o que criou um clima de expectativa. Muitos/as consideraram a cena como um avanço na luta pela visibilidade das pessoas homossexuais. Numa pesquisa realizada em internet pelo site UOL, 42% dos/as internautas escolheram a cena do beijo como a pior do último capítulo da novela por considerá-la “sem graça”, uma vez que esperavam “algo mais” entre as duas garotas.

Por outro lado, o Conselho de Administração de Rádio e TV da Câmara Federal incluiu a telenovela Mulheres Apaixonadas no quarto lugar numa lista de 10 programas de televisão denunciados pelos telespectadores/as por “falta de respeito aos valores éticos e morais da família”, numa campanha popular chamada “Quem financia a baixaria é contra a cidadania”. Entre os depoimentos do relatório do Conselho, estava o da Secretária Nacional de Justiça, Cláudia Chagas, que disse que se as personagens de Clara e Rafaela beijassem na boca, a novela não poderia ser exibida em horário livre. No entanto, o beijo foi transmitido e não houve censura prévia nem nenhum tipo de sanção judicial posterior, o que significa que o Conselho não considerou o beijo ofensivo (Peret, 2005: 151).

Para Peret, vários elementos propiciaram uma empatia positiva nos/as telespectadores/as em relação aos personagens de Clara e Rafaela. As duas eram vistas como jovens simpáticas, cheias de vida, que apenas queriam ser felizes juntas e enfrentar os obstáculos que apareciam, como a idade de Clara e a intolerância de outros personagens (2005: 183).

(Clara e Rafaela)

 

Senhora do Destino – TV Globo (2004-2005): Eleonora e Jenifer
Entre 2004 e 2005, TV Globo exibiu Senhora do Destino, que chegou a ter 81% de índices de audiência e contava também a história dos personagens de Eleonora (Mylla Christie) e Jenifer (Bárbara Borges). As duas apaixonam-se, passam a morar juntas e, no final da trama, adotam um menino negro. A história de amor entre as duas garotas também aumentou os índices de audiência. No dia 25 de novembro, quando fazem sexo pela primeira vez, a novela conseguiu 50 pontos(15). No entanto, as duas personagens foram utilizadas apenas uma vez para fazer merchandising(16), o que pode ser um indício de preconceito, já que o público gay começava a figurar como uma importante parcela do mercado consumidor do país (Gomide, 2006: 73).

Por outro lado, a revista Playboy escolheu Bárbara Borges para ser capa na edição de fevereiro de 2005, possivelmente pensando também no público lésbico, já que usava a chamada “Para a lésbica que existe em você”. A outra atriz, Milla Christie, uma semana depois do final da telenovela apareceu na capa da Revista Caras, em uma foto ao lado do seu namorado, com o título: “O verdadeiro amor de Milla Christie”, numa tentativa de desvincular sua imagem da personagem homossexual (Gomide, 2006: 73). Houve uma tentativa das duas atrizes em ter a imagem descolada das personagens(17).

Gomide considera positivo o fato das duas personagens falarem sobre seus sentimentos, em descobrir juntas o que está acontecendo com elas e quando expressam o amor em palavras (“Eu te amo”). Apesar de darem selinhos e aparecerem nuas na cama, a representação do casal é dessexualizada se for comparada com os casais heterossexuais (2006: 86). Para a autora, é importante quando Eleonora diz que já teve uma relação com outra garota e que prefere mulheres que homens (novidade nas tramas das novelas). Ela usa pela primeira vez a palavra “lésbica” em uma telenovela. Gomide (2006: 92) considera que Eleonora escreve um novo capítulo na história dos personagens homossexuais na ficção seriada brasileira ao definir-se como lésbica.

Por outro lado, ainda que o tema da adoção tenha sido introduzido para levar a polêmica ao horário nobre, existem indícios de que a audiência homossexual, especialmente a feminina, achou a temática chata e pouco animadora, já que logo as personagens só falavam sobre este assunto e não trocavam nem os mínimos carinhos como antes. A audiência analisada na pesquisa da autora preferia discutir sobre o envolvimento emocional das duas, como o início do namoro e a descoberta da sexualidade de Jenifer. Warn (2006: 5)(18), explica que a maior parte das histórias sobre casais de lésbicas nas narrativas dos meios audiovisuais é sobre “sair do armário” ou histórias dessexualizadas sobre criar filhos/as, como se o fato de ser mãe fosse a única possibilidade possível para um casal de lésbicas. Para ela, esta dinâmica funciona como uma estratégia de tirar a visibilidade do homossexualismo em relação ao sexo.

https://www.youtube.com/watch?v=NMy0lH5lOpU (Eleonora e Jenifer).

 

Amor e Revolução – SBT (2011): Marcela e Marina
Os personagens de Marcela (Luciana Vendramini) e Marina (Gisele Tigre) foram protagonistas de um apaixonado beijo entre duas mulheres, na novela Amor e Revolução do SBT. Foi o beijo mais atrevido entre pessoas do mesmo sexo na TV brasileira até hoje. Talvez por isso, algumas matérias publicadas na imprensa consideram que este é o primeiro beijo entre pessoas do mesmo sexo da teledramaturgia do Brasil(19). A telenovela estava ambientada nos anos da ditadura no país, o que torna mais ousada a história entre as duas mulheres. Marcela está apaixonada por Marina, que ama um homem. No final da trama, Marcela fica grávida depois de relacionar-se com um homem e tem que decidir com quem fica: ele ou ela. Escolhe Marina, uma decisão baseada nos votos dos/as telespectadores/as proposto por SBT. 82% dos 50 mil votos na página oficial da emissora optaram por Marina(20).

O beijo entre as duas fez aumentar a audiência da telenovela de cinco para nove pontos, no dia da exibição(21). Este aumento é considerável, já que a TV Globo sempre concentra a maior audiência em todos os horários. Na média de 2014, por exemplo, segundo o Painel Nacional da Televisão do IBOPE, SBT é a segunda emissora líder de audiência no Brasil, com média de 4.3 pontos. TV Globo continua líder com 12.2 e Record é a terceira, com 4.2. Cada ponto equivale a 233 mil domicílios(22). No entanto, o autor da novela, Tiago Santiago, pretendia fazer uma cena com dois homens beijando-se, mas, a emissora não permitiu. Em nota oficial, o SBT informou que tinha feito uma pesquisa com o público sobre a telenovela e os resultados indicavam insatisfação sobre dois aspectos: as cenas de violência em excesso e o beijo explícito entre pessoas do mesmo sexo. Na imprensa, especulava-se que a ala evangélica de executivos da emissora tinha pressionado para que o beijo não acontecesse. Outra especulação foi que o beijo entre as duas mulheres não tinha atraído anunciantes(23).

O fato evidencia o poder que a audiência pode ter sobre os acontecimentos da trama, inclusive impondo-se ao/à próprio/a autor/a, como já havia acontecido em outros casos(24). Um segundo beijo entre as duas mulheres chegou a ser gravado, mas, a exibição foi vetada ainda que a emissora mantivesse um vídeo com a gravação por alguns dias na sua página web(25). Numa entrevista, em 2011, a atriz Giselle Tigre, disse acreditar que “as pessoas com orientação sexual diferente necessitavam ser respeitadas e representadas na arte, necessitavam reconhecer-se. Isso é legítimo”(26). No entanto, em uma entrevista mais recente, em 2014, disse que dificilmente voltaria a representar um personagem homossexual, que era um assunto encerrado para ela, que agora prefere fazer outros tipos de personagens(27).

https://www.youtube.com/watch?v=IxdO_NDm5MQ (Marcela e Marina).

 

Em Família – TV Globo (2014): Clara e Marina
Clara (Giovana Antonelli) é casada com Cadu (Reynaldo Giannechini), mas, sente uma forte atração quando conhece a fotógrafa Marina (Tainá Müller). No entanto, o marido dela adoece quando parecia que o romance entre as duas começava a ficar sério, o que pôs a audiência a favor do casal heterossexual. O autor, Manoel Carlos, fez então com que Clara e Cadu se separassem antes que o romance entre a Clara e Marina seguisse. Cadu apaixonou-se por outra mulher e, no final da trama, Clara e Marina casam-se com o apoio de todo o elenco da história. Mais uma vez, o beijo entre duas mulheres volta a ser polêmica(28).

O primeiro beijo entre as duas, quando Clara pede Marina em casamento, não aumentou a audiência da telenovela e dividiu a opinião dos/as internautas. Muitas pessoas consideraram que foi um beijo muito simples para um casal que decide casar-se, enquanto outras aplaudiram a iniciativa(29). De acordo com notícias da imprensa, um beijo mais apaixonado entre as duas foi vetado pela cúpula da TV Globo por medo de reações contrárias de setores mais conservadores da sociedade, como a igreja católica. Além disso, uma pesquisa entre a audiência tinha demonstrado que o romance não havia sido aprovado pelos/as telespectadores/as no momento em que o marido de Clara ficou doente. Por isso, o autor teve que fazer mudanças para que as duas ficassem juntas e pudessem continuar com a relação. O casal, conhecido como Clarina, chegou a ter uma fã page em espanhol com 800 pessoas(30).

(Clara e Marina).

 

Babilônia – TV Globo (2015): Teresa e Estela
Um dos autores da telenovela, Ricardo Linhares, afirmou que o beijo entre as duas mulheres (citado no começo do artigo) foi escrito justamente no primeiro capítulo para não prolongar uma possível especulação sobre o casal. No entanto, afirmou também que este ainda é um tema que precisa ser discutido nos bastidores antes de ser concretizado(31). Por outro lado, o SBT aproveitou-se da queda de audiência de Babilônia e lançou um slogan para atrair a audiência mais conservadora: “Novela pra família é aqui”(32). Mas, a emissora teve que voltar atrás depois da polêmica causada pelo slogan já que, em 2011, o SBT tinha exibido, em Amor e Revolução, o beijo mais quente entre duas mulheres nunca antes mostrado nas telenovelas(33).

A imprensa especializada considerou o beijo entre as duas senhoras como um ato político e, assim, justificou a polêmica. Os autores, Gilberto Braga, Ricardo Linhares y João Ximenes Braga, não prepararam o público para o beijo apresentado no primeiro capítulo da novela. Desta forma, a audiência ainda não estava acostumada com o fato de que as duas senhoras estavam juntas há 35 anos e as demonstrações de carinho são parte da vida cotidiana de qualquer casal que passa tanto tempo vivendo junto. Também pode ser considerado um ato político por tudo que contextualiza, pelo peso das duas atrizes e pela proposta dos autores. Os dois personagens não foram criados para excitar voyeuristas com gestos de carinho explícito. O objetivo é enfrentar a homofobia e educar para a tolerância sexual. Por isso, são dois dos poucos personagens com uma moral inatacável. “Teresa e Estela são militantes da causa gay”, escreve Castro (2015)(34).

Outros/as autores/as consideram que o que mais incomodou a audiência foi o fato de o beijo entre as duas senhoras mostrar o prazer na terceira idade, algo que está institucionalizado no cotidiano. Nogueira (2015) explica que a sociedade não avançou em relação ao tema sobre o culto exagerado ao conceito comercial de beleza, que existe dificuldade por parte do público em aceitar que pessoas com mais de 50 anos possam ter sensualidade, beleza e uma vida sexual ativa. A autora ressalta que o preconceito é maior pelo fato de que as duas senhoras têm mais de 80 anos e são mulheres. Nogueira destaca que, hoje em dia, a expectativa de vida das pessoas é mais longa e, logo, a sexualidade também(35).

Um dos autores, Ricardo Linhares, considerou a proposta de boicote da bancada evangélica como um ato ditatorial e que promove a intolerância e a discriminação. No entanto, disse que é a reação de uma minoria de deputados que querem promover-se através da polêmica. Em entrevista à imprensa, ele admitiu que a relação entre as duas mulheres tem uma conotação política, defendeu a pluralidade da família contemporânea, a união entre pessoas do mesmo sexo, e ainda ressaltou que o Brasil é um país laico e que a novela deve refletir esta realidade(36).

Por último, a representação do amor entre duas mulheres mais velhas foi avaliada como positiva por casais de lésbicas na terceira idade que viram a história delas refletida na televisão(37). A atriz Fernanda Montenegro disse que espera que as personagens possam ajudar a diminuir o preconceito no Brasil e que a novela ajude as famílias a aceitarem os/as parentes homossexuais. Segundo ela, este é o objetivo do elenco e de toda da produção de Babilônia(38). No entanto, no final de março(39) e começo de abril, a audiência da telenovela continuava baixa e os autores decidiram cortar as cenas de intimidade entre as duas senhoras. A Globo fez uma pesquisa de audiência e os resultados apontaram que o público aprova os personagens das duas, mas, não gosta das demonstrações de afeto físico entre elas(40).

(Teresa e Estela).

 

Censura, política, religião, mercado. O que influi nas audiências?

No caso do Brasil, até final dos anos 80, a censura política e a dependência do capital privado faziam com que a televisão obedecesse a uma moral rigorosa e estrita ditada por censores/as que opinavam sobre o que acreditavam ser a representação de obscenidades e perversões, permitindo apenas a exibição de relações sexuais consideradas normais (Trevisan, 1986: 127)(41). No entanto, a televisão mostrava alguns personagens homossexuais reproduzindo estereótipos de gays afeminados e lésbicas masculinas.

A censura governamental teve um papel importante na má e escassa representação de gays, lésbicas, personagens bissexuais e transexuais nas telenovelas brasileiras até metade dos anos 80, quando o país ainda estava sob o regime militar. A audiência, a pressão de grupos conservadores e os controles comerciais afetaram a capacidade de escritores/as e produtores/as de impulsionar uma agenda de representações positivas da diversidade sexual nas novelas brasileiras. Além disso, os tipos de representações buscavam reforçar a hegemonia heterossexual, como propôs Dyer na sua análise sobre a homossexualidade no audiovisual (1984: 31)(42).

Segundo Mott (1996: 15)(43), as raízes da homofobia, no Brasil, podem ser remontadas à repressão da igreja católica, mas, a persistência dessa tradição está relacionada com a mídia que sempre manteve os estereótipos negativos de gays e lésbicas. Mott evidencia quatro manifestações de homofobia nos meios de comunicação: a censura, o ridículo, a calúnia e a omissão. O autor (1996: 16), documentou a primeira censura oficial da homossexualidade nos meios de comunicação no Brasil, em 1972, quando o congressista Mantelli Neto, da Assembleia Legislativa de São Paulo, introduziu uma legislação que proibia a representação de homossexuais nos programas de televisão de todo o país. Em 1985, a censura federal pediu à TV Globo que eliminasse três travestis da novela Um Sonho a Mais.

As representações que ridicularizavam ou eram caricaturas predominaram na televisão e nas telenovelas brasileiras, em particular no período da ditadura. Inclusive, durante a década de 70, essas imagens estavam limitadas aos programas emitidos depois das 23 horas (Mott, 1996). Na década de 80, as tentativas de romper com os estereótipos na representação de homossexuais foram censuradas. Os grupos conservadores como a igreja católica na sua vertente mais radical, como o Opus Dei e a TPF (Tradição, Família e Propriedade), mobilizaram, em várias ocasiões, seus/suas membros para protestar contra a inclusão, nas telenovelas, de personagens considerados perniciosos para a sociedade.

Na maioria dos casos, travava-se de personagens de gays ou de lésbicas que não eram caricaturados o suficiente para ser considerados uma ameaça à moral e aos valores promovidos por estas instituições. No entanto, as representações de personagens “folclóricos” de gays, como “palhaços” que são utilizados com alívio cômico, muitas vezes, foram ignorados pelos grupos conservadores que consideravam que estas representações ajudavam a apresentar uma imagem da homossexualidade como algo indesejável (La Pastina, 2002: 88).

As representações mais progressistas sobre a homossexualidade apareceram a partir dos anos 90, depois que a censura oficial foi extinta pela nova Constituição. No entanto, a eliminação da censura oficial não deixou os/as escritores/as totalmente livres para decidir sobre o conteúdo das telenovelas. As imposições comerciais e a própria estrutura do gênero continuavam restringindo os/as escritores/as ao conteúdo, às convenções e às fórmulas que já tinham demonstrado ter sucesso (Straubhaar et al., 2000)(44). Durante a produção, os/as criadores/as das telenovelas recebem contribuições diretas e indiretas dos telespectadores/as e fãs, de pessoas relacionadas com o mercado, da imprensa elitizada e popular, de instituições, de organizações de pesquisa de audiência e de marketing, além de outras forças sociais, como a igreja católica, o governo e os grupos de ativistas (Hamburger, 1993; em La Pastina, 2002; 86).

A superficialidade e a falta de profundidade nas representações de gays, lésbicas, bissexuais e transexuais nas telenovelas brasileiras tem sido a norma. Nas poucas representações onde os personagens foram mostrados de uma maneira menos caricaturesca, menos estereotipada costumavam ser dessexualizados e as decisões que tomavam e suas histórias de vida não se problematizavam como as vidas da maioria dos outros personagens da narrativa (La Pastina, 2002: 90). Como exemplo, uma das representações positivas de homossexuais, o casal de lésbicas da novela Torre de Babel, sofreu a pressão de grupos conservadores, ainda que o autor, Sílvio de Abreu, tenha dito que a orientação sexual é um tema importante que deve ser tratado com seriedade nas telenovelas (La Pastina, 2002: 92). A morte das lésbicas em Torre de Babel traumatizou a audiência que tinha medo que qualquer manifestação homoerótica mais explícita entre outros personagens de lésbicas pudesse resultar em assassinato (Gomide, 2006: 172). As lésbicas mortas em Torre de Babel representam uma fronteira, um limite do que pode ser representado sem desafiar a heterossexualidade (Gomide, 2006: 173).

A telenovela não pode ser considerada apenas como um reflexo da sociedade, mas também como algo que transforma conceitos e modos de vida além das telas (Braga, 2010: 3). Em relação a grupos com a sexualidade estigmatizada, quando uma telenovela visibiliza estes coletivos, contribui para aumentar os espaços de convivência e refazer os modos de ver e perceber estes grupos. A repetição de estilos de vida e de temáticas nas novelas faz parte da formação de regras morais e de representações sociais (Almeida, 2003)(45). Para Marques, a telenovela possibilita que os valores morais que regem as relações modifiquem-se com a finalidade de integrar os indivíduos que lutam por seu reconhecimento (2002: 12)(46). Segundo a autora, é difícil saber em que grau as telenovelas contribuem para transformar estereótipos. No entanto, considera correto pensar que a visibilidade proporcionada pelos meios contribui para problematizar em relação às representações da homossexualidade (Marques, 2002: 13-14).

Martín-Barbero explica que, na América Latina, a família é a unidade básica da audiência das telenovelas porque nela a maioria das pessoas encontra uma situação de reconhecimento primordial  (2003: 305)(47). Segundo Gomide, alguns/mas internautas entrevistados/as na sua pesquisa falavam sobre o incômodo em ver a telenovela com a família por escutar comentários de nojo sobre o casal de lésbicas. No entanto, muitos/as tinham a esperança de que com a continuidade da história, essa postura de pais e, especialmente de mães, pudesse mudar de uma forma mais positiva em relação à experiência homossexual feminina (2006: 175-178).

Martins (2012: 105)(48), ressalta o ponto de vista de Giddens (2004)(49) de que alguns conflitos de amor apenas poderão ser minimizados para duas pessoas quando exista uma maior igualdade profissional e mais individualização, quando o estado, o direito e a igreja se retirarem da regulação e do controle do matrimônio, da relação de casal e da intimidade para que o amor possa ter sua própria lógica e seus cenários de conflitos.

Para Martins (2012: 183), o debate sobre a regularização da representação sexual da televisão brasileira é inquietante e propicia uma constante luta entre os discursos da religião moralista e tradicional e do liberalismo. A autora expõe os argumentos de outros/as pesquisadores/as, como Davis e Needham, para quem “em culturas onde o conservadorismo político e religioso ainda prosperam e a homofobia permanece comum, todas as representações das minorias sexuais nos meios necessitam ser pesquisadas e interrogadas (2008: 3)(50).

E também Arthurs (2004: 73)(51), ao mencionar que as pessoas homossexuais são mais vulneráveis quando suas atividades sexuais são expostas na esfera pública o que lhes pode conduzir a uma condenação moral. Arthurs reforça a função da televisão em oferecer serviço público educativo, desmistificando a homossexualidade. Para ela, a representação da homossexualidade deveria ser reconhecida, bem vinda e recomendada para as famílias e não o contrário. Por último, em dois posts em sua página oficial do Facebook, o Ministério da Justiça do Brasil esclarece que não existe diferença na classificação indicativa de idade se há exibição, nos meios audiovisuais, de beijo(52) e cenas eróticas(53) entre pessoas do mesmo sexo ou do sexo oposto.

Resumindo, ainda que oficialmente o governo do Brasil não tenha uma postura de censura em relação à forma como a homossexualidade é representada no audiovisual, existem aspectos políticos influentes que ainda utilizam seu poder de persuasão para promover valores que estão relacionados ao que consideram o ideal de família. Estes setores, em sua maioria, estão ligados a posturas religiosas, o que potencializa os argumentos contra uma representação mais inclusiva e positiva sobre a homossexualidade. As pressões comerciais são exercidas de acordo com os índices de audiência, que atraem ou não os anúncios publicitários e influem no decorrer da trama. Já a audiência responde a estas pressões de diferentes formas. De um lado, estão os/as telespectadores/as que comungam com os valores morais defendidos por grupos conservadores. De outro, a audiência mais liberal e a pressão de grupos que lutam pelos direitos dos coletivos LGBTQI. Tudo isso faz com que a criação desses personagens por parte dos/as autores/as das telenovelas ainda seja um difícil desafio, já que não encontraram a fórmula para que a representação da homossexualidade possa ser visibilizada sem qualquer tipo de intervenção ou censura. Resta ver as cenas dos próximos capítulos.

 

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Link 7 Braga, Cíntia (2010). Vale tudo? A representação do primeiro casal lésbico na telenovela brasileira. XII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste/Comunicação Audiovisual.

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Link 9 La Pastina, Antônio (2002). The sexual other in brazilian television. Public and institutional reception of sexual difference. International Journal of Cultural Studies, 5(1), 83-99.

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Link 11 Gomide, Sílvia del Valle (2006). Representações das identidades lésbicas na telenovela Senhora do Destino. Dissertação de mestrado, Universidade de Brasília.

Link 12 Fernandes, Guilherme Moreira e Brandão, Cristina (2010). Identidade homoafetiva em telenovelas: percepção distinta entre a audiência massiva e a audiência folk. Revista Geminis, ano 1, nº 1, p. 99-125.

Link 13 Peret, Luiz Eduardo (2005). Do armário à tela global: a representação social da homossexualidade na telenovela brasileira. Dissertação de mestrado. Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Link 14 Sigla utilizada por ILGA (Intenational Gay and Lesbian Asociation).

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Link 16 Merchandising: quando uma marca, produto ou serviço é exibida como conteúdo da programação (Tamanaha, 2011: 261). Tamanaha, Paulo (2011). Planejamento de Mídia: Teoria e experiência. 2ª Edição, São Paulo: Pearson.

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Link 18 Warn, Sarah (2009). Introduction. Em Reading The L Word. Outing Comtemporary Television. Akass, Kim e McCabe, Janet (Eds). London: I.B. Tauris.

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Link 41 Trevisan, João Silvério (1986). Perverts in Paradise. London: GMP.

Link 42 Dyer, Richard (1984). ´Stereotyping´, em Richard Dyer (Ed.). Gays and Film. New York: Zoetrope, pp. 27-39.

Link 43 Mott, Luiz (1996). Epidemic of Hate: Violations of the Human Rights of Gay Men, Lesbians, and Travestities in Brazil. San Francisco, CA: Grupo Gay da Bahia and International Gay and Lesbian Human Rights Commission.

Link 44 Straubhaar, Josep; La Pastina, Antônio e Rêgo, Cecília (2000). ´TV Genres: Global Flows, Local Adaptations and Hibridization´, artigo apresentado na 50th Annual Conference of the International Communication Association, Acapulco, México, 1-5 de junho.

Link 45 Almeida, Heloísa Buarque (2003). Telenovela, Consumo e Gênero, “muitas mais coisas”. Bauru, SP: EDUSC.

Link 46 Marques, Ângela Cristina (2002). Da esfera cultural à esfera política: a representação da homossexualidade nas telenovelas e a busca por reconhecimento. INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. XXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Salvador/BA – 1 a 5 setembro.

Link 47 Martín-Barbero, Jesús (2003). Dos meios às mediações: Comunicação, Cultura e Hegemonia. Rio de Janeiro, RJ: Editora UFRJ.

Link 48 Martins, Aline (2012). A família homoparental na ficção televisiva: as práticas narrativas do Brasil e da Espanha como relatos das novas representações afetivo-amorosas. Tese doutoral. Universidad Autónoma de Barcelona, Espanha.

Link 49 Giddens, Anthony (2004). La Transformación de la Intimidad. Sexualidad, amor y erotismo en las sociedades modernas. 4 ed. Madrid: Cátedra. Disponível em

Link 50 Davis, Glyn e Needham, Gary (2009). Queer TV: Theories, histories, politics. New York: Taylor & Francis.

Link 51 Arthurs, Jane (2004). Television and Sexuality: Regulation and the Politics of Taste. Maidenhead: Open University Press.

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