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Por que estudar narrativas? Luiz Gonzaga Motta nos sugere uma primeira razão: estudamos narrativas para entender quem somos. A vida pessoal ou pública, nossa identidade como povo, como nação, nossa narrativa está sempre desvelando conhecimentos, explicando acontecimentos. A partir dos relatos podemos compreender um pouco mais o ser humano em sua complexidade, em seu simbolismo.
Outra razão para estudar narrativas é compreender melhor nossa dependência da mediatização jornalística dos acontecimentos mundiais. No tocante às representações sobre a América Latina identificadas na revista Veja, elas constituem um sistema de valores e ideias coletivos que procuram estabelecer certa ordem de dependência, enquadrando os fatos sociais, culturais e políticos a partir de um ponto de vista globalizado que nos impõe uma nova ideologia de poder, supranacional.
Célia Maria Ladeira Mota
Trecho do Prefácio
Considerando a importância das mediações nos tempos de globalização, o entendimento da produção narrativa do jornalismo seria uma forma de compreender a existência de consenso ordenado entre os agentes políticos e os efeitos globais na transformação social regional. Desse modo, as vozes que arregimentam as narrativas ganham fundamental importância nas análises, para a existência de uma matriz narrativa, na concepção de verdades e poder, que, substancialmente, definem-se em visão de mundo, ideologia. Nesta análise a revista Veja, ganha importância por sua inserção nas narrativas da política global, com fluidez entre outras mídias, com agendamento que ultrapassa o limite de sua publicação. Veículo brasileiro que sempre exerceu influência sobre a política regional, com efeitos na economia e representação cultural e territorial.
O método narrativo que lançamos mãos permitiu-nos acompanhar as estratégias dos narradores, de modo observar os procedimentos para configuração dos acontecimentos, na composição dos personagens, delimitando os espaços de poder simbólico para os protagonistas e antagonistas, na ordenação das metanarrativas, na tentativa de organização de matriz narrativa hegemônica. No final, definitivamente, há a intersubjetividade de grupos de personagens com poder, na configuração do narrador em uma referência à territorialidade, vozes autorizadas, legitimadas. Contudo, nas disputas num campo de conflitos sucessivos, há outras narrativas que seguem também roteiros, dando suporte a discurso numa interação com diversos interlocutores, para formação de significações, de maneira a definir a hegemonia de poder.