Narrativas emocionais e a verdade descolada dos fatos e sustentada mais em crenças e experiências pessoais do que no mundo real histórico revelam uma crise do jornalismo na vida pública no atual ecossistema informativo. A propagação de informações falsas afeta a mediação e a autoridade dos meios tradicionais de comunicação, mitiga a liberdade de imprensa e a confiança nas instituições, favorece regimes extremistas e torna nebuloso o discernimento dos problemas sociais do Brasil e do mundo. Porém, as fake news são apenas uma instância do fenômeno da desinformação, atreladas a outras formas de distorção de informação, aos mecanismos de inteligência artificial (algoritmos e robôs), ao poder das plataformas (Google, Facebook, entre outras) e o uso de aplicativos (como o WhatsApp, por exemplo). E a desinformação não é o único desafio da sociedade contemporânea. O aumento da pobreza e da desigualdade social, a precarização da saúde pública e do trabalho; as catástrofes, o colapso ecológico acentuado pela crise climática e a extinção da biodiversidade; as ondas nacionalistas e de autoritarismo, o terrorismo e as armas nucleares; a cultura do ódio, a concentração de poder de sistemas cibernéticos e a vigilância de dados pessoais ameaçam a população mundial e a democracia em todo o planeta. Mas a boa informação não é suficiente para combater a desinformação e os problemas sociais e ambientais locais e globais.
A distinção entre a boa e a má informação requer oferta de recursos para ampliar a compreensão dos acontecimentos mediante a interpretação. Habilidades para interpretar notícias são relevantes para lidar com a desordem informacional. As mídias sociais e as tecnologias digitais podem ser apropriadas tanto para promover uma sociedade mais justa e igualitária quanto para intensificar a cultura do ódio e a polarização. A Media Literacy, reconhecida como alfabetização ou letramento midiático no Brasil, e a News Literacy, um subcampo deste saber, contribuem para alargar o entendimento da experiência cotidiana, desobstruir preconceitos, desvelar ideologias imbricadas em representações, averiguar a confiabilidade das notícias e promover a diversidade cultural e políticas de proteção dos direitos humanos, mas não são uma solução para os problemas sociais e ambientais. A alfabetização midiática deve ser compreendida como um conjunto de pensamentos e usos críticos e criativos coletivos da mídia, direcionados ao bem estar social, que transcende as competências individuais e promove uma sociedade mais sustentável e solidária. Esta edição da revista Eco-Pós abre espaço para o letramento midiático como reflexão teórica e prática social com diferentes cores e sotaques capazes de colaborar para o agenciamento cívico de comunidades marginalizadas, a inclusão social, o reconhecimento das diferenças, o enfrentamento da crise climática e um projeto de futuro para a humanidade.