O tema desta chamada para artigos centra-se, em primeiro lugar, nos estudos sobre a receção das audiências no que diz respeito a diversas interseccionalidades, incluindo pessoas LGBTIQ+, com deficiência, idosas, racializadas, com diversidade corporal e mulheres, entre outras. Pretende-se analisar como estes grupos sociais interpretam e se relacionam com as representações de diversos formatos mediáticos (telejornais, imprensa, reality shows, séries de televisão, longas-metragens, redes sociais, plataformas de criação de conteúdos, etc.). É igualmente relevante analisar de que forma as audiências generalistas interpretam os discursos mediáticos sobre estas interseccionalidades. Desta forma, pretende-se explorar tanto o “efeito espelho” como o “efeito janela” nas audiências.
Por um lado, consideramos as audiências num sentido amplo, isto é, como todas as pessoas que veem e interagem com conteúdos mediáticos (Ha, 2020). Além disso, propomos que as audiências não sejam vistas apenas como meras consumidoras de conteúdos culturais e mediáticos, mas como agentes ativos, com um papel fundamental na interpretação dessas mensagens (Livingstone, 2015). Por essa razão, é relevante conhecer e explorar como estas audiências se relacionam com os conteúdos mediáticos e que usos fazem deles, tal como mostram investigações recentes sobre a interpretação que pessoas trans fazem da sua própria representação em séries de televisão (Villegas-Simón et al., 2024).
Por outro lado, tal como a própria sociedade, as audiências são diversas e heterogéneas (Kristensen & From, 2015). Historicamente, grupos sociais minoritários têm sido sub-representados ou então alvos de representações construídas com base em estigmas e preconceitos negativos (Sánchez-Soriano, 2023), como no caso das pessoas com deficiência (Page et al., 2024) ou das pessoas com diversidade corporal (Collins et al., 2024). Nesse sentido, as pesquisas têm-se centrado sobretudo na análise discursiva de representações antigas e emergentes (Ventura et al., 2024). No entanto, consideramos fundamental direcionar a atenção para a última fase do circuito mediático: a forma como as audiências interagem com estas representações, analisando as suas relações e reações a esses conteúdos.
Acresce que as redes sociais possibilitaram o surgimento de novos conteúdos e representações que, apesar de promoverem discursos aparentemente mais diversos, também competem com a disseminação de discursos de ódio (Miranda et al., 2024). Torna-se, assim, essencial desenvolver novas investigações que, sob a perspetiva da interseccionalidade, analisem a receção de conteúdos provenientes de qualquer meio de comunicação e formato, desde a imprensa, rádio e cinema até às redes sociais ou plataformas de criação de conteúdos, sempre com um olhar atento ao atual contexto cultural e mediático.
Tópicos possíveis:
- Metodologias centradas nas audiências e suas interações com os conteúdos culturais e mediáticos. Reflexões e ética na sua aplicação;
- Audiências pertencentes a minorias e o seu consumo cultural: mulheres, audiências LGBTIQ+, pessoas com deficiência, pessoas idosas, pessoas racializadas, pessoas com diversidade corporal, entre outras;
- Perceções, interações e respostas das audiências generalistas aos conteúdos que abordam a diversidade e a interseccionalidade;
- Literacia mediática. Aprendizagens formais e informais sobre diversidade e interseccionalidade através dos media;
- Fandom e interseccionalidade;
- Juventude, interseccionalidade e consumo cultural e mediático;
- Audiências digitais e interseccionalidade. Interação, consumo e respostas aos conteúdos gerados nas plataformas digitais;
- Meta investigação centrada na produção académica sobre audiências e interseccionalidades.