O jornalismo desempenha um papel central na sociedade dada a sua relação intrínseca com a democracia, uma vez que “as notícias moldam a forma como vemos o mundo, a nós próprios e uns aos outros” (Wahl-Jorgensen & Hanitzsch, 2009, p. 3). Nesse sentido, é importante estudar o jornalismo e os jornalistas, bem como as realidades que tornam visíveis e, por extensão, invisíveis. Enquanto “estudar o jornalismo sem qualquer tipo de viés etnocêntrico é uma impossibilidade epistemológica” (Hanitzsch, 2019, p. 214), a investigação em estudos de jornalismo deve refletir a diversidade e o pluralismo, evitando desequilíbrios de género ou localização geográfica, entre outros.
Além disso, o ideal de objetividade e a visão normativa do jornalismo afirmam que os jornalistas não devem tornar-se notícias. Considera-se pouco profissional falar sobre si próprio ou sobre os problemas da profissão, uma vez que isso pode comprometer o distanciamento e a objetividade dos jornalistas. De facto, tradicionalmente, os jornalistas têm poupado a indústria mediática ao escrutínio a que outras áreas estão sujeitas (Mesquita, 2003). No entanto, a atual crise no setor dos média noticiosos veio revelar uma realidade difícil que caracteriza o jornalismo em todo o mundo, com questões como a precariedade, as relações de trabalho atípicas, da violência e os abusos contra os trabalhadores dos média, a tornarem-se, gradualmente, notícia.
As contribuições para esta edição devem contemplar, entre outros, os seguintes tópicos:
- Invisibilidades no conteúdo jornalístico, incluindo a sub-representação de temas e/ou fontes de notícias;
- Diversidade (ou a sua ausência) nas redações e a sua relação com o conteúdo noticioso;
- Questões laborais no jornalismo, como a precariedade ou as relações de trabalho atípicas;
- Vulnerabilidade dos jornalistas, incluindo o abuso online e offline;
- Ameaças à liberdade dos média e o seu impacto nas práticas jornalísticas;
- Normas e práticas profissionais;
- Falhas em projetos e práticas jornalísticas;
- Iniciativas que desafiam as normas jornalísticas (por exemplo, iniciativas de informação cidadã em “desertos de notícias”);
- Outras invisibilidades nos estudos de jornalismo.