La comunicación en su interrelación con la ciudadanía

 

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Leslie Sedrez Chaves. Periodista y doctoranda del Programa de posgrado de ciencias de la comunicación da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)

Resenha do livro Comunicação e Cidadania: questões contemporâneas. Fortaleza: Edições Demócrito, BARBALHO, Alexandre; COGO, Denise; FUSER, Bruno (orgs.). Rocha, 2011. 180 p. (Coleção Meios e Mediação. Vol. 2. Comunicação e Cidadania)

Ao longo dos tempos, a noção de cidadania assumiu diversos sentidos, tornando-se um conceito amplo com capacidade de ser ponto de partida para uma infinidade de olhares acerca dos fenômenos sociais. Esse tema ganha ainda mais complexidade diante da centralidade da cultura e, principalmente, da comunicação na sociedade contemporânea.

Assim, analisar o lugar da comunicação nas diversas formas de exercício da cidadania se tornou uma das perspectivas mais relevantes para entender as transformações que estão em processo e como essas convivem com as múltiplas temporalidades e modos de ser e estar no mundo de hoje, e seus conflitos, ambigüidades e disputas por poder. A coletânea de artigos Comunicação e Cidadania: questões contemporâneas contribui de maneira relevante para essa tarefa, reunindo estudos de pesquisadores de diversas universidades do país, que direcionam seus focos para experiências de indivíduos, comunidades e movimentos sociais que estão na contramão dos grandes conglomerados comunicacionais e vão em direção às lógicas da comunicação popular, alternativa e comunitária.

São nove textos escritos por 11 professores universitários de referência integrantes do Grupo de Pesquisa Comunicação para a Cidadania da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), que tem por objetivo “abordar os aspectos teóricos e metodológicos resultantes de pesquisa sobre as inter-relações entre comunicação e cidadania, a partir das relações dos campos comunicacional e midiático com as culturas populares, comunidades, identidades culturais e minorias, com ênfase nos processos que se desenrolam no âmbito dos movimentos populares, comunitários, sindicais e nas ONGs bem como nas esferas partidárias e religiosas”, conforme está dito no prefácio da obra.

Abre o livro o resgate histórico e teórico realizado por Cicília Peruzzo no artigo Conceitos de comunicação popular, alternativa e comunitária revisitados e as reelaborações do setor. A partir do contexto brasileiro dos movimentos sociais e comunidades, a autora discute os principais conceitos de comunicação popular, alternativa e comunitária, e suas reelaborações. Ao final, propõe uma em que relaciona diferenças e semelhanças entre essas formas de comunicar.

Raquel Paiva, em seu texto Minorias flutuantes e ativismo social: Aspectos da contra-hegemonia na sociedade midiatizada, também faz uma atualização de conceitos propostos em 2001 a respeito da pertinência e apropriação da noção de “minoria” inserida em contexto midiáticos. Para o resgate, autora se baseia no entendimento de que “mesmo dentro do círculo do discurso midiático, é possível contar com novos cenários de sentido, provocados ou propostos por atores sociais geralmente excluídos das possibilidades de fala” (p.28). A autora chega à “flexibilização conceitual” de “minoria flutuante”, expondo no artigo o percurso de formulação do conceito.

Já as autoras Denise Cogo e Deisimer Gorczevski, através de um estudo empírico desenvolvem, o estudo Juventude, mídia e cidadania das migrações transnacionais, para pensar as conexões entre esses três eixos a partir do ponto de vista da comunicação cidadã direcionada a ações e práticas interculturais e transnacionais com as mídias. A pesquisa foi realizada com jovens migrantes nascidos em países latino-americanos e europeus residentes na região metropolitana de Porto Alegre, capital do estado brasileiro do Rio Grande do Sul, e Barcelona, capital da Catalunha, na Espanha. As autoras orientam sua análise para aspectos em torno das percepções e práticas de intervenção dos jovens migrantes nas mídias.

A dimensão cidadã da tecnologia é abordada por Bruno Fuser no artigo Telecentros públicos em Juiz de Fora: Alternativas de apropriação das tecnologias digitais. O acesso às tecnologias digitais de comunicação é considerado uma das dimensões da cidadania. Esse é um dos motivos pelo qual o autor defende que esse acesso seja promovido não apenas através dos usos dados a essas tecnologias, mas especialmente através de políticas públicas de inclusão cidadã. A reflexão do autor parte dos resultados de um mapeamento das principais iniciativas públicas de inclusão digital na cidade Juiz de Fora, no estado de Minas Gerais, na região sudeste do Brasil. (p.80).

O tema da interface entre tecnologia e cidadania se vincula à política no estudo Práticas políticas e cidadania no site de relacionamento Orkut: Individualismo e autoafirmação nas comunidades virtuais, de Márcia Vidal Nunes. A autora dialoga com Baumann para entender a fluidez e volatilidade da “modernidade líquida” em que estamos inseridos. E faz um estudo sobre a rede social Orkut entrevistando jovens usuários do site a fim de investigar perspectivas de sua participação política e exercício da cidadania.

A rede mundial de computadores também é um dos cenários da pesquisa de Catarina Tereza Farias de Oliveira. No texto Produção de notícia e valorização de sujeitos, o uso da internet pelos movimentos sociais populares, a autora discute a internet como meio apropriado pelos movimentos sociais populares para construção de autoimagem de seus atores e contextos onde estão inseridos. Através da “difusão comunicativa” esses grupos transmitem imagens positivas da periferia que se contrapõem ao enquadramento dado pela grande mídia. A discussão é realizada a partir da pesquisa feita sobre a experiência do site do bairro Ellery (www.bairroellery.com.br), na cidade Fortaleza, região nordeste do Brasil, gestado por lideranças do movimento popular local.

Diversificando as abordagens propostas no livro, Mohammed Elhajji propõe um debate teórico-epistemológico em seu artigo Comunicação Intercultural: Prática social, significado político e abordagem científica. O autor lança uma discussão analítica no campo da comunicação a respeito da interculturalidade e da Comunicação Intercultural (CIC) como elementos centrais na configuração da sociedade atual e capazes de traduzir as transformações contemporâneas.

O cinema brasileiro é o foco do estudo de Maria Luiza Martins de Mendonça abordado no texto Produção audiovisual e expressão da cultura subalterna no Brasil. A autora investiga “se e como as populações periféricas, subalternas, podem se expressar e emitir suas próprias opiniões e visões de mundo para a sociedade, neste caso específico, por meio da produção audiovisual” (p. 141). A autora avalia o papel das produções audiovisuais que se destinam a representar o “povo” e o “popular”, definidas pela autora como “periféricas”, no cinema brasileiro contemporâneo (p. 143). A pesquisa discute ainda a produção de sentidos do cinema feito sobre o “povo” e pelo “povo” (p. 144).

O artigo que fecha o livro apresenta a investigação realizada por Francisco das Chagas de Souza e Alexandre Barbalho. No texto Jornalismo estudantil: Construindo e disputando espaços públicos na escola, os autores debatem articulações e negociações que se ambientam na escola “a partir da experiência do jornalismo estudantil, entendido este como espaço de interlocução, de construção e ressignificação de práticas e discursos político-culturais” (p. 157). O estudo aborda a atuação do Projeto Clube do Jornal (PCJ), na rede pública estadual de Maracanaú, município da região metropolitana de Fortaleza, nordeste do Brasil. O Projeto coordenado pela ONG Comunicação e Cultura (CeC) utiliza o eixo da educomunicação para buscar o diálogo e a democratização do espaço escolar. Nesse contexto, são discutidos os pontos de vistas dos estudantes, da escola e da ONG, as relações de poder e articulações entre as diversas esferas que compõem o espaço público escolar.

A partir dessas diferentes abordagens, a obra Comunicação e cidadania: questões contemporâneas apresenta importantes contribuições teórico-metodológicas e um aprofundamento crítico acerca de algumas das principais questões que envolvem a articulação entre comunicação e cidadania. Ao valorizar o diálogo da academia com a sociedade e fomentar análises derivadas de estudos empíricos, a obra certamente oferece subsídios chaves para o entendimento das dinâmicas transformações sociais contemporâneas no campo comunicacional.

 

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